Módulo 2.

Gestão colaborativa e envolvimento da comunidade

Se vive numa comunidade, sabe que as relações entre os seus membros são laços fortes essenciais para uma coexistência saudável e para alcançar objetivos comuns que melhoram a vida e preservam a cultura e a identidade da comunidade.

Este módulo é inteiramente dedicado à gestão colaborativa e ao envolvimento da sua comunidade em projetos patrimoniais, especialmente através de ecomuseus e outras iniciativas locais. Analisaremos como a partilha da tomada de decisões e a participação ativa dos habitantes locais podem realmente ajudar a proteger os aspetos físicos e culturais do património de forma sustentável.

Terá uma combinação de teoria e ferramentas práticas para ajudá-lo a compreender o que é necessário para gerir o património em conjunto com as comunidades. Ao analisar exemplos reais e realizar exercícios interativos, aprenderá como apoiar as comunidades na criação e gestão dos seus próprios projetos patrimoniais. O módulo mostra como o envolvimento local não preserva apenas o património: também pode impulsionar o turismo sustentável e ajudar as áreas locais a prosperar.

Além disso, foi concebido para proporcionar às comunidades rurais um melhor acesso a uma educação de qualidade, com recursos online flexíveis que qualquer pessoa pode utilizar.

Fig. 1. Exploração do território comunitário no Ecomuseu Lis Aganis (Itália). Fonte: Lisa Pigozzi

Capítulos

Introdução à gestão colaborativa

Este capítulo apresenta a ideia de gestão colaborativa na conservação do património. Explica os princípios fundamentais e a sua importância, especialmente para os ecomuseus. Irá aprender sobre os diferentes papéis desempenhados pelos governos locais, ONGs, empresas e residentes quando trabalham em conjunto para cuidar do património cultural e natural. Daremos especial atenção aos ecomuseus, que Maggi (2002) descreve como «um pacto entre uma comunidade e o seu património» — um excelente exemplo de como funciona a gestão participativa do património. Além disso, analisaremos alguns documentos oficiais que apoiam a gestão sustentável do património.

Juntos prosperamos: estratégias de envolvimento da comunidade

Este capítulo trata do envolvimento das comunidades em projetos de conservação do património. Exploraremos técnicas práticas, como tomada de decisão participativa, coleta de histórias orais e narrativa colaborativa, todas ferramentas que ajudam as pessoas a se sentirem conectadas e ativamente envolvidas na proteção do seu património.

Gestão participativa do património para o turismo sustentável e o desenvolvimento local

O aumento da comunicação e a ampla gama de opções de viagem, tanto entre países como dentro da mesma região, levaram alguns locais a experimentar um aumento avassalador do turismo, muitas vezes com efeitos negativos nas comunidades locais que o acolhem. Mas e se imaginássemos um tipo de turismo que não prejudicasse o anfitrião, mas que, em vez disso, se tornasse parte da vida e da identidade locais? Este capítulo analisa como a gestão colaborativa pode ajudar a criar um turismo sustentável. Destaca formas de equilibrar o acolhimento de visitantes, tendo em mente o bem-estar da comunidade. Também verá como o envolvimento da população local torna as experiências culturais mais autênticas e significativas.

Desafios e soluções na gestão liderada pela comunidade

A gestão colaborativa traz muitos benefícios, mas também apresenta desafios. Questões como conflitos de interesses, financiamento limitado e governança complicada podem atrapalhar. Este capítulo aborda esses problemas e compartilha algumas soluções inteligentes. Alguns dos maiores obstáculos incluem conciliar as expectativas das diferentes partes interessadas, encontrar apoio financeiro estável e lidar com o esgotamento dos voluntários. Para enfrentar esses desafios, é importante ter uma tomada de decisão direta e aberta, explorar diversas opções de financiamento e investir em formação e capacitação. Também analisaremos lições de exemplos reais em todo o mundo que mostram como as comunidades superaram com sucesso esses obstáculos.

Estudos de caso

Nesta secção, analisaremos quatro projetos locais — dois em Espanha e dois na Holanda — que mostram com sucesso como as comunidades se envolvem em iniciativas em que o património cultural imaterial contribui tanto para o desenvolvimento como para o bem-estar dos seus membros.

«Raíces»: Fortalecendo as narrativas comunitárias por meio da arte colaborativa, Espanha

Fig. 6. Projeto «Raíces». Fonte: Manual de Boas Práticas HIGHRES.

Raíces é um projeto de investigação comunitária liderado por estudantes de mestrado em Educação Estética da Universidade de Jaén, Espanha. O projeto decorreu na cidade de Alcaudete, onde os habitantes locais foram convidados a partilhar as suas histórias pessoais, memórias e artesanato tradicional. Em estreita colaboração com a Associação de Moradores de Fuente Zaide, essas histórias foram recolhidas e transformadas num documentário digital que preserva e celebra o património cultural imaterial da comunidade. Usando arte participativa e contação de histórias, Raíces ajudou a unir as pessoas, deu aos residentes uma voz mais forte e impulsionou a identidade local. Ao misturar conhecimento tradicional com ferramentas digitais, o projeto mostra como o trabalho conjunto pode proteger o património cultural. Ele também destaca como as parcerias entre universidades e comunidades podem construir resiliência, incentivar conexões intergeracionais e apoiar o desenvolvimento sustentável — tudo isso pode ajudar a promover o turismo local e o crescimento económico.

«Vientos del Tiempo»: Revitalizando tradições orais através do teatro e dos meios digitais, Espanha

Fig. 7. Projeto “Vientos del Tiempo”. Fonte: Manual de Boas Práticas HIGHRES.

«Vientos del Tiempo» é um projeto cultural de Torredonjimeno, Espanha, que dá nova vida às tradições orais e ao património local através do teatro e dos meios digitais. Este grupo sem fins lucrativos envolve a comunidade através de narração dramatizada, visitas guiadas e obras audiovisuais para manter vivas as histórias, os costumes e as figuras históricas regionais. Ao combinar apresentações ao vivo com plataformas modernas, como a televisão e as redes sociais, tornam os contos tradicionais frescos e emocionantes, especialmente para o público mais jovem. Alguns destaques incluem a série “Tiempo de Navidad” e a parceria com influenciadores do TikTok para divulgar a história local de maneiras divertidas. Este projeto não só aumenta o orgulho cultural e os laços entre gerações, mas também ajuda o turismo, tornando as experiências patrimoniais mais acessíveis e envolventes. “Vientos del Tiempo” mostra como a narrativa combinada com ferramentas digitais pode proteger o património imaterial, ao mesmo tempo que constrói o espírito comunitário e apoia o crescimento local.

Identificando o Património Imaterial, Arnhem, Países Baixos

Fig. 8. Projeto Spotting Intangible Heritage. Fonte: página web do Centro Holandês para o Património Cultural Imaterial,

Identificar o património imaterial é um projeto interessante realizado pelo Centro Holandês para o Património Cultural Imaterial, parte do Ministério da Educação, Cultura e Ciência (OCW). O seu objetivo é sensibilizar as pessoas em toda a Holanda para o património cultural imaterial (PCI). Eles colocam códigos QR em aldeias, cidades e locais culturais que os visitantes podem digitalizar para descobrir histórias digitais sobre tradições e práticas locais. O que é realmente especial é a forma como essas histórias são criadas: o Centro de Conhecimento começa com um roteiro básico, mas depois as comunidades locais acrescentam as suas próprias histórias e experiências pessoais. Este trabalho em equipa entre residentes, escritores e profissionais da comunicação social garante que o conteúdo seja autêntico e envolvente. Ao combinar tecnologia com as vozes reais da comunidade, o Spotting Intangible Heritage ajuda a dar vida à cultura local e torna as pessoas mais ligadas ao local onde vivem.

Museu Nacional do Holocausto

Fig. 9. Museu Nacional do Holocausto. Fonte: Foto de Mike Bink, HIGHRES Good Practices Handbook.

O Museu Nacional do Holocausto adota uma abordagem prática, envolvendo diretamente os sobreviventes do Holocausto e suas famílias na criação das suas exposições. Os sobreviventes partilham as suas histórias e experiências pessoais, que se tornam uma parte fundamental da forma como o museu conta a sua história. Esse trabalho em equipa ajuda a manter as exposições autênticas e profundamente comoventes, ao mesmo tempo que honra as vozes daqueles que viveram o Holocausto. É uma forma de garantir que a mensagem do museu seja respeitosa, significativa e verdadeiramente conectada à vida das pessoas reais.

Ferramentas de autoavaliação

Questões de autorreflexão

Q1

Por que a gestão colaborativa é importante para a sustentabilidade do património?

Q2

Quais são os principais desafios do envolvimento da comunidade em projetos patrimoniais?

Q3

Como podem as empresas locais contribuir para o turismo sustentável?

Q4

Que estratégias participativas aplicaria para envolver os jovens num projeto patrimonial?

Q5

Em que medida o turismo liderado pela comunidade difere dos modelos turísticos tradicionais?

Q6

Que estruturas de governação podem apoiar uma colaboração eficaz entre as partes interessadas?

Teste de autoavaliação

Referências

Maggi, M. (2002). Ecomuseums: European Guide. Torino, Italy: Umberto Allemandi.

UNESCO Sustainable Tourism Guidelines.

UNESCO World Heritage and Sustainable Development policy.

 

Fontes adicionais

Concomitentes: Promotes the creation of works of art and mediates negotiation between citizen promoters and artists.

UNESCO Training on Collaborative and Integrated Management of Protected and Heritage Landscapes.

Daniel and Nina Carasso Foundation: Committed to the field of civic art, for the development of critical thinking and the strengthening of social cohesion

Framer Framed: Platform for contemporary art, visual culture, and critical theory and practice.

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